Uma Ética para o Novo Milênio
Cada uma de nossas ações conscientes e, de certa forma, toda a nossa
vida podem ser vistas como resposta à grande pergunta que desafia a todos: "Como posso ser feliz?"
No entanto, estranhamente, minha impressão é que as pessoas que vivem em países de grande desenvolvimento material são de certa forma menos satisfeitas, menos felizes do que as que vivem em países menos desenvolvidos.
Esse sofrimento interior está claramente associado a uma confusão cada vez maior sobre o que de fato constitui a moralidade e quais são os seus fundamentos.
A meu ver, criamos uma sociedade em que as pessoas acham cada vez mais difícil demonstrar um mínimo de afeto aos outros. Em vez da noção de comunidade e da sensação de fazer parte de um grupo, encontramos um alto grau de solidão e perda de laços afetivos.
O que gera essa situação é a retórica contemporânea de crescimento desenvolvimento econômico, que reforça intensamente a tendência das pessoas para a competitividade e a inveja.. E com isso vem a percepção da necessidade de manter as aparências - por si só uma importante fonte de problemas, tensões e infelicidade.
O descaso pela dimensão interior do homem fez com que todos os grandes movimentos dos últimos cem anos ou mais - democracia, liberalismo, socialismo - tenham deixado de produzir os benefícios que deveriam ter proporcionado ao mundo, apesar de tantas idéias maravilhosas.
Meu apelo por uma revolução espiritual não é um apelo por uma revolução religiosa.
Considero que a espiritualidade esteja relacionada com aquelas qualidades do espírito humano - tais como amor e compaixão, paciência, tolerância, capacidade de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção de harmonia - que trazem felicidade tanto para a própria pessoa quanto para os outros.
É por isso que às vezes digo que talvez se possa dispensar a religião.
O que não se pode dispensar são essas qualidades espirituais básicas.
UMA ÉTICA PARA O NOVO MILÊNIO
Sua Santidade, O Dalai Lama