Como os cegos diferenciam as notas de dinheiro?
As cédulas de real apresentam diferenças perceptíveis
No tato apenas quando estão novas. O Banco Central
Deve adotar modelo estrangeiro para que os cegos
Consigam identificar melhor os valores.
O braile não é uma opção viável
Laura Lopes
Real As notas apresentam apenas marcas de relevo
Em qualquer lugar do mundo é possível reconhecer
Ou nos Estados Unidos, e nem precisa saber a língua nativa,
Nem mesmo seralfabetizado. Só há uma exceção para essa regra:
Os deficientes audiovisuais. Como eles contam dinheiro? Aqui no
Brasil, as moedas da segunda família (a segunda geração de moedas de real)
Possuem tamanhos e espessuras diferentes, algumas são serrilhadas nas bordas,
Justamente para serem diferenciadas por meio do tato. Já as cédulas têm marcas
De relevo que se perdem com o uso. "Essas marcas são pouco perceptíveis,
Principalmente para os maisidosos. E, com o tempo, as notas vão perdendo o relevo",
Diz Regina Fátima Caldeira de Oliveira, deficiente visual e coordenadora da Revisão dos
Livros Braille da Fundação Dorina Nowill, de São Paulo.
Euro Cada valor tem um tamanho diferente, obedecendo à regra
De quanto maior o valor, maior o tamanho. A nota também
Apresenta marcas táteis em relev
A primeira solução que vem à cabeça é a inserção de caracteres
Embraile nas notas. Essa, no entanto, é uma saída pouco útil:
O braile sairia com o desgaste das cédulas, assim como
Acontece com as marcas de relevo atuais. "Além disso,
O braile é lido por muitas pessoascegas, mas não por todas.
A gente não quer braile nas notas", afirma Regina, que
Participou de reuniões com o Banco Central e a Casa da Moeda
Com entidades representativas dos deficientes visuais do país,
Para encontrar uma solução viável e prática para o problema.
O BC comunga a opinião da Fundação Dorina. Segundo João Sidne
Do chefe do departamento de Meio Circulante, "a tecnologia de impressão
Não tem sobrevida. Na terceira manipulação da nota, o braile já acaba".
Apesar da concordância, pouca gente sabe que o braile não é o melhor
Caminho a seguir. No dia 27 de outubro, a Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) encaminhou um ofício à Casa da Moeda solicitando informações sobre a
Viabilidade técnica para implantação desse sistema de leitura nas
Cédulas e moedas do país. A proposta, feita pelo conselheiro do
Amazonas Edson de Oliveira, tem a melhor das boas intenções,
Em defesa dos direitos dos cegos, já que os mesmos não têm
Acesso à leitura das notas. Mas não funciona. "Há quem faça isso
Para melhorar e ajudar, mas devia falar com pessoas que lidam
Com o problema diariamente e que podem ter a melhor proposta", diz Regina.
Austrália As notas tem tamanhos diferentes e são reconhecidas
Por meio de um gabarito entre as propostas sugeridas nas
Reuniões entre as entidades e o governo, a que mais agrada
Regina é o modelo adotado na Austrália e nos países que fazem
Parte da União Europeia (e usam o euro). Lá, as notas possuem
Tamanhos diferentes, crescendo à medida que o valor aumenta.
O portador de deficiência visual recebe uma espécie de gabarito
Que indica o valor da nota, em braile. Ao colocar a nota dentro desse
Gabarito, sua ponta vai cair sobre o valor correspondente a ela. Serve
Mais para quem ainda não decorou o tamanho das notas ou não está
Acostumado àquela moeda.
Canadá Além das notas terem furinhos arranjados de formas diferentes
Para cada valor (à dir.), um aparelhinho lê a nota e emite um sinal
Diferente para cada valor, por meio de voz, som ou vibração
Na opinião do BC, no entanto, o modelo canadense é que deve
Vigorar no Brasil. Segundo o chefe do departamento de
Meio Circulante do Banco Central, não é necessário mexer no
Tinta invisível diferente para cada valor e distribui um aparelhinho
Subsidado que reconhece o magnetismo da tinta e emite um sinal
Para cada valor", afirma João Sidney. Trata-se de um aparelho pequeno,
Que pode ser levado no bolso e distribuído gratuitamente pelo
Pelos australianos e europeus, Sidney diz que não é a melhor solução e,
Como o reconhecimento é feito pelo tato, pode levar a erros de interpretação.
"Eu apostaria nessatecnologia sonora", diz. Só não se sabe quando ela entrará em vigor.
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